quarta-feira, 24 de junho de 2009

Do suicídio como meio profiláctico e equilíbrio da demografia


Acabei de ler este excelêntíssimo livro há uns dias e confesso que este senhor me surpreende mais a cada história. Recomendo veemente a sua leitura aos meus queridos amigos. E como se costuma dizer: "Porque o que é nacional é bom!"


"O suicídio é um gesto nobre, comecei a ler, o Luc tinha fechado a porta. Ele é mesmo uma voz da Natureza para o animal que tem bons ouvidos. O lacrau. A baleia. Muito pássaro engaiolado. Quando nasceste a Natureza disse-te toma lá a vida e sê contente com ela. Não te disse toma lá a vida e espera aí um pouco que eu já te codilho. E que fazer se ela é um estupor? se ela te dá e depois te cai em cima com um cancro invalidez fome cegueira paralisia reumatismo hidrocelos epilepsia caganeiras excessivas úlceras de repetição hepatites zumbideiras nos ouvidos trombose afasias pancada na mioleira e traições humilhações públicas e privadas depressões angústias metafísicas desastres políticos desastres amorosos burlas ambições amochadas derrotas no futebol na lotaria nas artes e letras e mais e mais e mais? O suicídio é o único acto nobre com que se pode enfrentar a traição da Natureza. Porque ela espera de nós o quê? Ela espera de nós a cobardia, a submissão abjecta, o comer e calar. Não vos caleis. Falai a única linguagem que ela e os deuses entendem. O suicídio é um acto nobre e corajoso e os que se suicidaram ficaram na História com o seu exemplo sublime. Catão, Lucrécio, Séneca, Luciano, Petrónio, quantos mais. Não se conta de ninguém que morreu de caganeira. Não se conta de suicídio senão dos romanos mas não dos gregos que eram uns merdas. Mas sempre o suicídio se assinalou como a razão da morte de quem teve razão na vida. Ele é mesmo o acto sacramental glorioso como abrir as tripas num país que conheceis. E é porque a Natureza conta com a vossa abjecção que há gente excedentária no planeta. Vede os pretos e amarelos que se multiplicam como as moscas. Assim o suicídio é uma acção benemérita em favor dos povos enquanto não for uma acção obrigatória como pagar uma multa por um carro mal estacionado. Glória aos precursores voluntários desta medida higiénica e demográfica, antes de ela vir a ser uma obrigação constitucional.
E depois passava à questão prática da escolha do modo suicidário. Porque isto é naturalmente importante, dizia. Isto tem uma graduação cultural de dignidade, sexo e até de classe. Já imaginaram um militar ou um arcebispo suicidarem-se com pesticidas? Ou um campónio com barbitúricos? Ou uma mulher com espingarda caçadeira que lhe deixasse a cara em fascículos? Não sou tão exigente ou rigoroso que vos aconselhe um método de execução. Eles são mesmo inúmeros porque a necessidade humana é imensa. Mas dou-vos alguns para uma ementa mais variada. Eles são, aliás, os mais correntes, ou seja, os mais batidos na experiência. Escolhei. Mas sede prudentes e escolhei com ponderação. Os métodos que vos sugiro são: 1- o tiro. É rápido e funcional. E tem a vantagem de não precisar de preparativos. 2- por enforcamento. Também é rápido mas tem o inconveniente de se ter de montar a corda, armar o laço, subir para um banco, empurrá-lo e ficar de língua de fora. 3 - afogamento. Incómodo. Mais lento e com o desconforto da água. 4 - o punhal. Só praticável para homens históricos e já um pouco fora de uso. E há a sangueira. 5 - o veneno. É conforme. Os pesticidas proletários dão dores que se farta. Os barbitúricos são mais suaves. Adormece-se e e não vale a pena chamarem porque já não se acorda. Mais próprio para mulheres que têm sempre a esperança de que de todo o modo as acordem. 6 - debaixo do comboio ou do metro. Método também popular. Pouco cordial para quem tem de apanhar os destroços. Mas de decisão rápida. Está-se ao pé da linha e a decisão vem ou não vem. Se vem, é logo. 7 - cortar as veias. É um método clássico e histórico para quando não havia o tiro nem o comboio. Muito digno. Mas muito sujo. O exemplo mais célebre é o de Petrónio que tapava e destapava a veia para ir entretendo o paleio com os amigos e ir morrendo por etapas. Pouco recomendável para os tempos modernos pela demora e falta de limpeza. São estes os sete processos que vos proponho porque o 7 é um número esotérico e contém portanto uma verdade profunda.
Depois vinha a segunda parte em que se prescrevia a aprendizagem da morte desde a instrução primária. E se as estatísticas demonstrarem que já é tarde - na pré-primária. E esta disciplina devia ser obrigatória até aos cursos superiores como a educação física e cívica. O horror da morte é antinatural e mais próprio das civilizações atrasadas. Ponde uma criança inocente ao pé de um morto e ela é capaz de lhe fazer festas. Depois injectai-lhe a mioleirinha de horrores e ela fica com os horrores e larga o morto. Mas é então altura de o morto ir atrás dela e de lhe pôr os sonhos por conta. E nunca mais de lá sai, que os aposentos são bons, são mesmo os melhores do homem. Vós já pensastes quantas vezes sonhais com mortos? já pensastes quantas vezes acordais aflitos porque um morto passava a noite convosco? Dizeis vós são pesadelos, coisa que vos pesa no miolo? É a vingança do morto sobre a vossa cobardia de maricas, a forma que tem mais à mão de vos chamar cagarolas. Porque é que não tendes cagaço de ver uma mosca morta ou um piolho ou mesmo um cão que já vos mexe no entanto um pouco com o sistema nervoso, que já está contaminado de humanidade? Porque vós sabeis que um piolho ou uma minhoca são mortais e sofreis na mioleira da pancada da imortalidade. Aprendei a ser mortais. Aprendei a morte como aprendestes a estar à mesa, na retrete, desde o acto de amor ou desamor ao uso da toalha respectiva. O médico e o cangalheiro não têm medo da morte. Porque é que um cangalheiro há-de ser mais evoluído que vós? (...)
Só existe para o homem o que existe pela primeira vez. Olhai uma paisagem cem vezes e ela deixará de ser visível. Ouvi uma música cem vezes e ela será só ruído. Ouvi cem vezes um canhão na guerra e vós podereis dormir em pacificação. Olhai um morto com abundância e tereis a sublimidade de um coveiro."


Vergílio Ferreira, Na tua Face

terça-feira, 23 de junho de 2009

FoR CaT LoVeRs

"Ó tu que me dás de comer! Não queres levar a gente prá faculdade???"
Eu até levava, infelizmente é proibida a entrada a seres inteligentes, sensíveis e intuitivos...
[Na minha próxima vida, quero ser um gato! Aí sim, estarei mais perto do Nirvana.]



"Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu."
Fernando Pessoa

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A uma rapariga



"Abre os olhos e encara a vida! A sina
Tem que cumprir-se! Alarga os horizontes!
Por sobre lamaçais alteia pontes
Com tuas mãos preciosas de menina.

Nessa estrada da vida que fascina
Caminha sempre em frente, além dos montes!
Morde os frutos a rir! Bebe nas fontes!
Beija aqueles que a sorte te destina!

Trata por tu a mais longínqua estrela,
Escava com as mãos a própria cova
E depois, a sorrir, deita-te nela!

Que as mãos da terra façam, com amor,
Da graça do teu corpo, esguia e nova,
Surgir à luz a haste de uma flor!..."


Florbela Espanca


Para P.D., a minha grande Amiga

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Detesto gente que respira...













Aqui ficam algumas dicas para quem as quiser apanhar...
Atrofiados out there, this one's for You !!!
With Love,
Pearl