domingo, 7 de março de 2010

O pó, o nada, o sonho dum momento...



"Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida."

[Provérbio Chinês]





Quem


Não sei quem és. Já não te vejo bem...

E ouço-me dizer (ai, tanta vez!...)

Sonho que um outro sonho me desfez?

Fantasma de que amor? Sombra de quem?


Névoa? Quimera? Fumo? Donde vem?...

- Não sei se tu, amor, assim me vês!...

Nossos olhos não são nossos, talvez...

Assim, tu não és tu! Não és ninguém!...


És tudo e não és nada... És a desgraça...

És quem nem sequer vejo; és um que passa...

És sorriso de Deus que não mereço...


És aquele que vive e que morreu...

És aquele que é quase um outro eu...

És aquele que nem sequer conheço...


[Florbela Espanca]




Mendiga


Na vida nada tenho e nada sou;

Eu ando a mendigar pelas estradas...

No silêncio das noites estreladas

Caminho, sem saber para onde vou!


Tinha o manto do sol... quem mo roubou?!

Quem pisou minhas rosas desfolhadas?!

Quem foi que sobre as ondas revoltadas

A minha taça de oiro espedaçou?!


Agora vou andando e mendigando,

Sem que um olhar dos mundos infinitos

Veja passar o verme, rastejando...


Ah, quem me dera ser como os chacais

Uivando os brados, rouquejando os gritos

Na solidão dos ermos matagais!...


[Florbela Espanca]












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